Viajar é olhar;
é ter olhos despertos,
olhos de mar,
de amplitudes e horizontes
- para saber olhar os essenciais
e não o pó fútil do verniz das aparências.
Olhos de viajar
para ouvir a sinestesia do tempo:
uma antiga canção de ninar,
de um cansaço de alma velha súplica
- sem mais tempo para a estupidez
das palavras déspotas,
dos verbos imperativos.
Viajar é olhar
vislumbrar,
desvelar o infinito do nada
e nele: o mais belo do belo que ousou existir.
Ser do tombo, um universo
e ser do profundo a busca
suprema.
Não no meramente raso,
nem tão apenas mesquinho.
Viajar é olhar
para poder um dia, quiçá,
dores acalentadas,
descansar da guerra
do fogo e da caça
no suave abraço
dos braços da amada.
Uma amada tem muitos abraços.
Viajar é olhar
para não perder de vez o sentido,
para não punir a experiência telúrica
com a ausência bruta, cruel, dos que não sentem.
Patrícia Porto
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