Para a alma, pensar é definitivamente mais doloroso do que sentir - a dor sem saída provocada por um paradoxo é eterna.
As emoções?
Para o saudoso, a lembrança alivia.
Para o perdido, uma palavra consola.
O desesperado - de que mais precisa senão de fé?
Mas a ninguém, em nenhum tempo, em nenhum lugar, é permitido escapar da dor de um paradoxo. (Gregório)
Para Simon Blackburn,
"os paradoxos desempenham um papel importante na filosofia, visto que a existência de um paradoxo não-resolvido mostra que há algo nos nossos raciocínios ou nos nossos conceitos que não compreendemos".
Há paradoxos que são estranhamente engraçados, pois faz parte de sua natureza parecer uma mágica: seu resultado é absurdo e inesperado, e queremos imediatamente saber qual é o truque.
Veja abaixo alguns paradoxos extremamente intrigantes.
(Todas as informações e citações foram retiradas do ótimo Dicionário Oxford de Filosofia, escrito por Simon Blackburn e publicado no Brasil pela Jorge Zahar.)
O paradoxo do mentiroso
"Esta frase é falsa."
Se a frase é falsa, então é verdadeira; se é verdadeira, então é falsa.
Paradoxo de Newcomb
Imagine que há duas caixas diante de você.
Numa delas você pode ver que há 1.000 reais.
A outra está fechada, e você não pode ver seu conteúdo.
Você pode optar por levar uma delas com você, ou pode optar por levar as duas.
Mas você recebe a seguinte informação:
Deus já colocou 100.000 reais na caixa fechada SE ele previu que era esta que você escolheria levar (deixando a outra para trás).
Em caso contrário, ele não colocou nada nela.
E parece que isso é mesmo verdade, pois dizem a você que todos os que escolheram a caixa fechada acabaram encontrando 100.000 reais ali dentro, enquanto todos os que levaram as duas faturaram apenas 1.000 reais.
A questão é: você leva as duas caixas ou apenas a fechada?
É mais forte o argumento de que o certo é levar as duas caixas, pois Deus já fez aquilo que quis fazer.
Independentemente do que ele fez, você vai ganhar 1.000 reais mais o que estiver na caixa fechada, se escolher as duas.
Mas há ainda um excelente argumento de que o certo é levar só a caixa fechada.
Nas palavras de Blackburn, "o argumento para escolher apenas a caixa fechada é o de que as pessoas que fazem essa escolha são as que acabam ficando ricas".
O paradoxo da prova surpresa
Imagine que o período letivo acabe no próximo dia 30.
Dez dias antes, o professor ameaça os alunos, dizendo que até o fim desse período letivo haverá uma prova surpresa.
Porém é impossível logicamente a aplicação dessa prova surpresa.
A explicação é a seguinte: a prova não pode ser no dia 30, que é o último dia de aula, pois, no fim do dia 29, não havendo ela ocorrido ainda, os alunos já saberiam que a prova seria no dia 30 (e assim não seria mais surpresa).
Sendo assim, o dia 29 passa a ser o último dia possível para que o professor aplique uma prova surpresa.
Mas então, no fim do dia 28, os alunos já saberão que a prova seria no dia 29, e ela deixaria de ser surpresa.
Esse raciocínio pode ser estendido dia por dia, de forma que não resta ao professor nenhum dia para a aplicação de uma prova realmente surpresa.
O paradoxo do assassinato delicado
Se você considerar assassinar uma pessoa, então passa a ser um dever assassiná-la.
Por quê?
Ora, se você considerar assassinar uma pessoa, torna-se um dever assassiná-la com delicadeza. Se assassiná-la com delicadeza é um dever, então, afinal, é um dever assassiná-la.
O paradoxo do perdão
Se só devem ser perdoadas as pessoas que merecem o perdão, então não faz sentido perdoar ninguém: se uma pessoa não merece perdão, não deve ser perdoada; e, se merece, então não há nada a perdoar.
O paradoxo do barbeiro
Numa pequena cidade, há um barbeiro. Sobre a cidade e o barbeiro, afirma-se que:
1. Ele faz a barba de todas as pessoas da cidade que não barbeiam a si próprias.
2. Ele faz a barba apenas dessas pessoas, e de mais ninguém.
Pergunta-se: quem faz a barba do barbeiro?
Se ele se barbeia a si próprio, então não barbeia a si próprio (já que ele só barbeia aqueles que não barbeiam a si próprios).
Se ele não barbeia a si próprio, então barbeia a si próprio (já que ele barbeia todos aqueles que não barbeiam a si próprios).
O paradoxo da onipotência de Deus
Se Deus é onipotente (pode fazer tudo), pergunta-se: ele pode criar uma pedra que ele não possa erguer?
Se não pode criá-la, não é onipotente; se pode, "então também não é onipotente, já que ao criá-la estaria originando algo que não poderia fazer (levantar o que tinha criado)".
Paulo Santoro